Segundo o Atlas da Violência 2019, que analisou os registros de 2017, dos 65.602 assassinados, 35.783 eram jovens e 49.524 eram negros. Além disso, os números computaram crescimento, em relação ao atlas de 2016.
Na Bahia, da mesma forma. De acordo com a pesquisa, foram 7.487 mortos no total, sendo 4.522 jovens e 6.798 negros. Porém, esses dados são refutados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP-BA), que afirma desconhecer a metodologia do atlas, feito Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Com dados de “outros institutos”, o governo do estado informa que foram registrados 6.321 assassinatos naquele ano.
De toda forma, a deputada diz que o resultado da pesquisa é “profundamente lamentável”, já que a CPI indicou a necessidade de um Plano Nacional de Redução de Homicídios de Jovens. “Demonstra que nós avançamos pouco na verdadeira política de combate à violência e à política de prevenção, de capturar a juventude para um projeto de vida”, critica a parlamentar.
Mas Lídice pontua que, para entender essa crescente, é preciso analisar o panorama das regiões no Brasil. O documento aponta para um decréscimo na maioria das regiões do país, exceto no Norte e no Nordeste, que caminham em direção contrária. “Há uma relação direta do crescimento das mortes violentas nos estados do Nordeste e parece-me um deslocamento da disputa do tráfico de drogas que migra do Sudeste para essa região”, analisa a deputada. De fato, o atlas considera a expansão das facções criminosas para outras áreas do país como um fator preponderante para o aumento do número de homicídios nesses locais.
Quanto ao fato de as maiores vítimas serem pessoas e jovens negros, a deputada ressalta que não se trata de mera “coincidência”, mas sim do racismo estrutural vigente na sociedade brasileira. Por isso, ela defende que é preciso combater o preconceito com “políticas de inclusão social, nas áreas mais empobrecidas”.
É esse o mesmo entendimento do movimento Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto, através de uma de suas líderes. Aline Nzinga indica a existência da manutenção de uma política de atuação do governo. Segundo Aline, “a gente vive em um estado de terror”.
“Para gente isso é a repercussão de um sistema, e um governo que, já há muitas décadas, permanece na ideia que é a eliminação de um grupo, para proteção da área de outro grupo”, analisa a líder do movimento.
O entendimento do grupo é que existe um perfil do criminoso na Bahia, que tem entre 14 a 29 anos, com a maioria negra. Para a ong, todo o investimento da segurança pública é para abater um determinado perfil, com a ideia de “defender e acabar com a criminalidade”. “Mas se for comparar os investimentos da segurança pública com o número de mortos, a conta não bate. Então qual é o real interesse é de eliminação”, critica.
“Acho que isso é questão de princípio se existe alguma ideia de política de segurança pública preventiva não é efetivada no estado da Bahia. Se fosse assim não aumentava o número de homicídios”, concluiu.