Trinta anos depois da morte de Luiz Gonzaga, lembrada nesta sexta-feira (2), o legado do Rei do Baião é repassado para várias gerações de sanfoneiros e cantores nordestinos. Não importa a idade, os artistas mantêm aceso o ritmo consagrado pelo pernambucano, nascido em Exu, no Sertão.
Em mais de 50 anos de carreira, Gonzagão mostrou para todo o país e para o mundo o que é o Sertão. A sua gente, os costumes e o ritmo comandado pela sanfona. Gravou mais de 600 canções e vendeu mais de 10 milhões de discos.
Para Damaris Referino, que não tinha nascido quando Gonzagão morreu, em 1989, o Rei do Baião foi a inspiração para a profissão de sanfoneira. Ela deixou o Sertão para estudar o instrumento na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Damaris Referino tem Luiz Gonzaga como uma inspiração — Foto: Reprodução/TV Globo
“Quando eu ganhei uma discografia de Luiz Gonzaga, comecei a me interessar pela música pernambucana e principalmente pela sanfona dele. Decidi aí que queria aprender a tocar sanfona. Fui atrás, estudei, e descobri que é o meu instrumento. O instrumento que a gente toca abraçado, está sempre muito perto do peito. Sertanejo, ele saiu do seu lugar, foi atrás. É uma inspiração”, diz.
Luz Gonzaga e sua família — Foto: Reprodução/TV Globo
Aos 12 anos, Luiz Gonzaga animava festas na região ao lado do pai, Januário, que era um sanfoneiro talentoso e respeitado. O Sertão ficou pequeno para ele e, aos 17 anos, ele saiu de casa e levou a música para o Brasil e exterior.
Para incentivar novos talentos, ele distribuiu mais de 100 sanfonas. Um dos jovens beneficiados foi o cantor Waldonys, que lembra com admiração do ídolo. “Seu Luiz Gonzaga representa a referência maior para todos os sanfoneiros e artistas que se propõem a cantar forró”, afirma.
Luiz Gonzaga morreu no dia 2 de agosto de 1989 — Foto: Reprodução/TV Globo
Gonzagão ousou vestir chapéu de couro e roupa de vaqueiro nas apresentações e acelerou os compassos da música nordestina para criar e se tornar o Rei do Baião. Para acompanhar a música acelerada e vibrante, ele criou o trio de forró. Foi dele a ideia de juntar a sanfona à marcação da zabumba e ao som agudo do triângulo.
Ele compôs mais de 200 músicas e, com o parceiro Humberto Teixeira, criou “Asa Branca”, considerado o hino do Nordeste brasileiro.
Até o fim da vida, ele cantou. No último show que fez, no Recife, estava numa cadeira de rodas e deixou um pedido: que dissessem que ele, sanfoneiro, amou muito o Sertão.
Luiz Gonzaga nasceu em Exu, no Sertão pernambucano — Foto: Reprodução/TV Globo
Para cantores como Beto Hortiz, Gonzaga abriu caminho para vários artistas nordestinos que hoje cantam a saudade. “Ele não vai acabar e vai permanecer de pai para filho. Sou neto de sanfoneiro e herdei isso, escutando Luiz Gonzaga através de meu avô. Isso vai continuar por muito tempo”, diz.
Para os dias de saudade, Luiz Gonzaga deixou um pedido simples. “Gostaria que lembrassem que eu sou filho de Januário e Dona Santana. Gostaria que dissessem que esse sanfoneiro amou muito o Sertão. decantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes. Decantou os valentes, os covardes. Decantou, também, amor.”
Shows
No dia da lembrança dos 30 anos da morte de Gonzagão, shows gratuitos foram realizados no Recife. As atividades culturais fizeram parte do Projeto Lengo Tengo, desenvolvido pelo governo do estado.
O tributo ao Rei do Baião contou com a participação do Quinteto Violado, grupo que tem 47 anos dedicados à música nordestina. A apresentação ocorreu no Centro Cultural Cais do Sertão, no Centro da cidade.
O grupo apresentou o espetáculo “Quinteto Violado: 30 anos de Luiz Gonzaga”. O show foi montado a partir do legado musical e das marcas deixadas por Gonzagão no trabalho da banda
Também participaram da homenagem a Gonzagão os sanfoneiros Joquinha Gonzaga, sobrinho do Rei do Baião, Terezinha do Acordeon, a cantora Bia Marinho e um coral infantil, com 100 vozes.
O coral encerrou o show com “Asa Branca”, um dos maiores sucessos gravados por Gonzaga, sob a regência do maestro Fernando Furtado, do Colégio Real.
Fonte: G1/PE
Reportagem fantástica.