Um dia depois de o ministro da Justiça, Sergio Moro, ser sabatinado no Senadosobre trocas de mensagens entre ele aos procuradores da força-tarefa da Lava Jato, novos diálogos sobre o caso voltaram a ser divulgados. Desta vez, em uma parceria inusitada entre o site de esquerda The Intercept Brasil, que obteve as mensagens privadas dos acusadores que eles afirmam ter obtido com uma fonte anônima, com o colunista Reinaldo Azevedo, um antipetista de direita declarado. Durante seu programa na rádio Band News FM, Azevedo divulgou mensagens trocadas entre os procuradores Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa, e Carlos Fernando dos Santos Lima após uma conversa do primeiro com Moro. De acordo com Azevedo, eles discutiram uma orientação do então juiz do caso após a performance de uma procuradora em audiência, e podem ter feito mudanças para beneficiar a atuação da acusação nos depoimentos dos acusados. Tanto o ex-juiz como os procuradores não reconhecem como autênticas as mensagens vazadas porque dizem que podem ter sido adulteradas por hackers.
Segundo Azevedo, 17 minutos depois de ter sido aconselhado por mensagem privada no aplicativo Telegram por Moro a dar “conselhos” e “treinamentos” sobre as técnicas de questionamento da procuradora Laura Tessler, cuja performance teria sido considerada insatisfatória pelo ex-juiz, Dallagnol encaminhou o comentário de Moro a Santos Lima. O coordenador da força-tarefa sugeriu ao colega, então, que fizessem uma “reunião estratégica sobre inquirição” e que olhassem a escala das próximas audiências para que ao menos dois procuradores fossem em cada uma delas. “Na audiência do Lula não podemos deixar acontecer”. Tessler não foi à audiência do ex-presidente, segundo o jornalista. Ainda não está claro, porém, as razões pelas quais ela não estava presente na audiência seguinte à mensagem do então juiz.
“Parceria”
De acordo com Reinaldo Azevedo, as informações reveladas por ele agora são fruto de uma “parceria de apuração” entre o programa dele – É da coisa – e o The Intercept. Na semana passada, Azevedo realizou uma entrevista com Leandro Demori, editor-executivo do veículo fundado por Glenn Greenwald. O jornalista, no passado, foi responsável pela criação do termo petralha, em que se referia de forma pejorativa ao PT de Lula. Mas há tempos é crítico da operação Lava Jato, que afirma cometer excessos. A estratégia do The Intercept agora parece ser a de buscar sócios jornalísticos para responder a acusações de que os vazamentos são partidários ou visam a proteger Lula.
Pouco antes das revelações de Azevedo em seu programa, Greenwald publicou em sua conta no Twitter: “Alguém pode dizer que isso é apenas reportagem da esquerda? Tem pessoas que querem prender o @reinaldoazevedo por revelar este material “ilicitamente obtido”, ou reconhecemos que os jornalistas fazem isso? Decida se Moro disse a verdade ontem. Muito mais vindo de outros parceiros”. Na próxima quarta-feira, Sergio Moro encara nova sabatina, desta vez na Câmara dos Deputados.
Fonte: El Pais