Em sua 18º Legislatura, a Câmara Municipal de São Paulo terá mulheres negras ocupando quatro das 55 cadeiras do parlamento, a maior participação dessa parcela da população na história da política paulistana. Em todas sua história, os paulistanos elegeram apenas seis vereadoras pretas.
Desde a petista Claudete Alves, que encerrou seu mandato em 2008, a capital paulista não elegia uma vereadora negra. Antes dela, somente a professora Theodosina Rosário Ribeiro, que recebeu 26.846 votos, em 1968, quando se candidatou pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), partido que fazia oposição aos militares.
“Nossa candidatura não tem padrinhos políticos. Do nosso coletivo, dois foram desligados do trabalho para fazer campanha”, aponta a educadora Elaine Mineiro, que coordena um dos núcleos de base da Uneafro, rede de cursinhos populares, e que encabeça uma chapa coletiva, o Quilombo Periférico, que recebeu 22.742 votos.
As circunstâncias que levaram à sua eleição. “Eu não tenho acesso à internet de fibra ótica na minha casa, eu não tenho boas opções para esse serviço, só uma, que é bem ruim. Como você faz uma campanha que está sendo majoritariamente na internet, se não consegue acesso decente à internet?”, relata.
Ainda de acordo com a vereadora eleita, a política está cada vez mais restrita a pessoas que já eram populares antes da eleição.
“Quando você faz um trabalho na periferia, você não é celebridade na internet e nem na esquerda. Enquanto a gente faz trabalho de base, tem muita gente na internet dizendo que precisa fazer trabalho de base”, aponta.
Mineiro ressalta a importância da construção de uma candidatura que represente o movimento negro no contexto eleitoral.
“Quando a gente coloca uma candidatura como uma candidatura do movimento e que estará a serviço do movimento, isso é complicado, porque também nos desgasta. Mas é importante que as pessoas saibam que uma pessoa, só por ser negra, não significa que ela represente os interesses do movimento negro, é uma construção que vem antes”, reflete.
Eleita com 37.550 votos, Luana Alves também tem sua militância atrelada à luta pelo acesso à Educação Superior e destaca a importância do processo coletivo para a eleição deste ano.
“Essa eleição é especial não por méritos individuais, mas do coletivo das mulheres negras na rua, do movimento negro na rua, pedindo o voto em pessoas negras”, explica Alves.
A pessolista, que é coordenadora da Emancipa, uma rede de cursinhos populares, ressalta a importância da militância para garantir a presença de mulheres negras no parlamento paulistano.
“Nenhum tipo de atividade e militância é tranquilo para uma mulher negra. Eu sempre fiz política e vou seguir fazendo é política. Eu milito e seguirei militando nos cursinhos populares e na saúde. O que acontece é que nunca foi fácil pra gente. Mas, por outro lado, o fato de ter sido militante ajuda muito, tem muitos anos que as pessoas me conhecem”, destaca.
Essa conexão com os territórios onde atuam, fez com que as vereadoras tivessem que conciliar a campanha com um fenômeno mundial que tornou a eleição ainda mais difícil: a pandemia de covid-19.
“Estamos no meio da pandemia e ela vitimou muito mais pessoas na periferia. A nossa campanha foi interrompida, tivemos que parar tudo que estávamos fazendo para socorrer a comunidade. Se nós não fizermos o emergencial na periferia, não tem quem faça, e aí temos que ficar nessa rede de proteção.”
O parlamento
Durante a próxima legislatura, Elaine Mineiro e Luana Alves serão oposição a Fernando Holiday (Patriota) e Sonaira Fernandes. O primeiro, fundador do Movimento Brasil Livre (MBL) e apontado como uma das lideranças promissoras da direita paulistana. A segunda, ex-assessora do deputado federal Eduardo Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).
Com a composição atual da Câmara Municipal, o centro e a direita terão maioria. A esquerda cresceu no município, saltando de 11 para 14 vereadores, mas ainda é menor. Para Alves, a oposição ganhará força com a mobilização dos paulistanos nas ruas.
“A gente aposta muito exatamente nas forças dos movimentos sociais e das pessoas se mobilizando. A Câmara é comandada por interesses privados. Sabemos que, por mais que o PSOL ainda não seja maioria, vamos contar com a força dos movimentos populares”, explica Alves, que lembra do projeto de erradicação da fome por meio da “farinata” que o ex-prefeito João Dória (PSDB) tentou emplacar em São Paulo, em 2017, que foi batizado de “ração humana.”
“Quando o Dória tentou empurrar a ração humana, houve uma avaliação que ele ia passar o projeto, éramos minoria na Câmara. Houve uma exposição pública do tema e o governo teve que recuar, até mesmo os vereadores da base ficaram constrangidos de votar a favor daquele projeto”, lembra Alves.
Mineiro acredita que pode haver uma tentativa de polarização, mas alerta que o seu mandato não buscará esse confronto.
“O Holiday e as candidaturas de direita nunca pautaram nosso trabalho e eles não vão pautar nosso trabalho. É o contrário. O Holiday não faz nada na Câmara. Aí, na véspera da eleição, ele entra com um processo para barrar as cotas, só porque isso dá audiência com o público dele”, ressalta.
Para valorizar a representatividade da candidatura, ela pretende elevar o nível do debate no legislativo paulistano.
“Nós não vamos fazer essa política do enfrentamento tosco, de uma discussão que não leva ninguém a lugar nenhum. É uma vitória muito grande, que uma candidatura totalmente de periferia seja eleita. Então, vamos elevar o nível e debater os projetos que temos para apresentar.”
Briga pela Prefeitura
Ambas, obviamente, esperam que Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, seja eleito, no pleito contra o atual prefeito, Bruno Covas (PSDB). Os candidatos disputam o segundo turno do pleito eleitoral no dia 29 de novembro. O tucano lidera as pesquisas de intenção de votos.
“Temos a expectativa de eleger o Boulos. A possibilidade de continuar esse feudo do PSDB em São Paulo, torna óbvia a adesão à candidatura do Boulos e a defenderemos. Aliás, ele representa um movimento extremamente importante na cidade (MTST)”, aponta Mineiro.
Para Luana Alves, é impossível dissociar a imagem do PSDB, de João Dória e Bruno Covas, de Jair Bolsonaro. Por isso, “Boulos é capaz de fazer uma eleição ao lado do povo e que combata as ideias bolsonaristas.”
Mineiro pondera que, enquanto representante do movimento negro, o horizonte é ter uma candidatura negra para disputar a prefeitura.
“Como movimento negro, esse não é o melhor cenário para a cidade, queríamos outras opções, queríamos que pudéssemos votar em uma candidatura negra. Entendemos que há uma dificuldade da esquerda em produzir lideranças negras que disputem cargos majoritários”.
Fonte: Brasil de Fato
CULPA DOS BRANCOS OU DOS NEGROS QUE NÃO VOTAM EM NEGROS ?
CULPA DOS BRANCOS OU DOS NEGROS QUE NÃO VOTAM EM NEGROS ? CREIO QUE EXISTAM NEGROS EM NUMERO SUFICIENTE NÃO PARA ELEGER APENAS UM VEREADOR,MAS,VARIOS !